Ser ou não ser – eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma;
Pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra o mar de angústia –
E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer, dormir:
Só isso. E com o sono – dizem – extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Morrer – dormir –
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir do sono da morte
Quando tivermos escapado ao túmulo vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá a desventura uma vida tão longa
Cidade dos Mortos
O túmulo que vos apresento
Pode ser um símbolo da história que eu quero contar.
Da caminhada da cidade dos mortos.
Sim, as cidades caminham,
mas só quem as observa por muito tempo
pode perceber seus passos.
Começamos a nossa romaria no interior das igrejas.
Sob benção e vigilância do clero e dos servos do Senhor.
Então, gradativamente,
como quem quer se libertar de um estorvo,
nos expulsaram Casa do Criador,
e colocaram nossa nova morada
a parte da cidade dos vivos.
Exilados,
construímos nossas próprias igrejas,
Para que pudessem nos venerar fora da matriz citadina.
Colocamos anjos em nossas sepulturas,
para que nos protegessem e nos levassem para perto de Deus.
Erguemos bustos para que nossa imagem imponente
ficasse esculpida no mármore da eternidade.
E vos pergunto: alguém se lembra de nós?
A cidade dos vivos cresceu e caminhou
e hoje nos cerca como um abraço.
Mas, no silencio, nós também crescemos, ao natural.
E eis que estamos agora a retribuir o fraternal abraço aos vivos.
Porque não há vida
que não seja em reverencia a morte
E o resto...
É silencio.
( Mauro Ricardo Lemos)
Mausoléu da família Franco: Trecho da peça “Hamlet”, de William Shakespeare - Mauro Ricardo Lemos
Fotos: Douglas Lemos de Quadros e Tais Robaina Vidal
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